Eu Já Fui "Perfeito"
De tão perfeito que me achava, repreendia alguém por não
ser quem eu queria que fosse.
De tão perfeito, discutia com outros por falarem coisas que eu achava
desnecessário.
De tão perfeito, me afastava das pessoas que, aos meus olhos, faziam
coisas imperfeitas.
De tão perfeito, sentia vontade de agredir quem não praticava o que eu
achava certo.
De tão perfeito, briguei até com Deus pelas injustiças que eu via no
mundo.
E, por ser tão perfeito, quase desisti de mim mesmo todas as vezes que
eu falhei.
Foi então que percebi: ser "perfeito" não era tão
perfeito. Eu buscava o que não existia de acordo com o meu querer e, amargurado
em minha perfeição, perdi o prazer de viver.
Quando abandonei minha falsa perfeição, parei de exigir, brigar,
discutir e julgar.
Descobri, enfim, que em minha busca por ser perfeito, eu era o mais
imperfeito de todos e causava desprazer aos que estavam ao meu redor.
Perfeição nos meus modos era uma grande ilusão.
E assim é, na busca incessante por padrões de perfeição,
muitas vezes nos deparamos com a armadilha da ilusão, onde a autoexigência e a
comparação constante nos afastam da verdadeira essência do ser. Neste contexto,
vale a pena refletir sobre a perfeição nos leva a questionar o valor que
atribuímos a nós mesmos e aos outros. Veremos que, em contrapartida, ao abraçar
a aceitação genuína, encontramos um espaço seguro para reconhecermos nossas
imperfeições e valorizar nossa humanidade. Da jornada do desejo por perfeição à
acolhida de nossas falhas não apenas nos liberta, mas também nos conecta a um
propósito maior: ser autênticos e amar uns aos outros em nossa vulnerabilidade.
"Perfeição ou Aceitação: Uma Reflexão sobre o
Verdadeiro Valor do Ser"
A ideia de ser "perfeito" é complexa e muitas
vezes ilusória. Na sociedade, a perfeição costuma ser vista como a ausência de
erros ou defeitos, um estado de excelência absoluta em todas as áreas. Porém,
essa visão é quase inatingível e pode levar a uma busca incessante por padrões
inumanos e inalcançáveis, trazendo mais frustração do que realização.
Vale a pena ser perfeito?
Essa pergunta nos leva a refletir sobre os custos emocionais e psicológicos
da busca pela perfeição. Segundo a psicóloga Brené Brown, "a perfeição é
uma armadura que nos mantém separados dos outros e do nosso verdadeiro
eu." Ela argumenta que a busca pela perfeição não protege as pessoas de
sentimentos de vergonha ou insegurança, mas, ao contrário, intensifica esses
sentimentos, tornando-as mais vulneráveis ao medo de falhar. Carl Rogers, um
dos fundadores da psicologia humanista, também afirmou: "Quando aceito a
mim mesmo como sou, então posso mudar." Isso sugere que a verdadeira
transformação ocorre quando aceitamos nossas imperfeições, em vez de negá-las.
O que é ser perfeito?
Ser perfeito pode ter significados diferentes para cada pessoa. Para
alguns, é atingir um ideal estético, profissional ou moral. Para outros, é
cumprir certas expectativas sociais ou religiosas. Entretanto, no sentido mais
profundo, a perfeição não significa estar isento de falhas, mas sim aprender e
crescer a partir delas. O psiquiatra Viktor Frankl escreveu: "O que é
necessário não é uma condição sem falhas, mas a coragem de enfrentar nossos
próprios erros e a força para superá-los." Isso enfatiza que o crescimento
pessoal é mais valioso do que uma perfeição ilusória.
Qual é o conceito de perfeição?
O conceito de perfeição varia entre culturas, religiões e filosofias. Na
Bíblia, por exemplo, Jesus orienta seus seguidores a serem "perfeitos como
o Pai celestial é perfeito" (Mateus 5:48), o que pode ser entendido não
como uma chamada para a impecabilidade, mas como um convite para o amor
incondicional e a integridade de caráter. Em um sentido filosófico, perfeição
pode ser vista como a completude, uma harmonia de todas as partes de uma
pessoa. A psicoterapeuta Alice Miller, conhecida por seu trabalho sobre traumas
e a autocompreensão, disse: "O maior presente que podemos dar a nós mesmos
é o reconhecimento de que não precisamos ser perfeitos para sermos
amados."
Portanto, a perfeição talvez seja menos sobre nunca errar e
mais sobre a humildade de aprender, de amar e de crescer a cada dia. Como o
psicólogo Albert Ellis observou: "Aceitar-se plenamente como se é – sem se
julgar – é um dos passos mais importantes para alcançar uma vida mais feliz e
significativa."
Concluindo com a sabedoria bíblica: "Mas Ele me disse:
A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Portanto,
de boa vontade, antes me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite
o poder de Cristo." — 2 Coríntios 12:9.
Esse verso destaca a importância de reconhecer nossas
fraquezas e dependência de Deus, mostrando que a verdadeira força e perfeição
se encontram na graça divina, e não em nossas tentativas humanas de atingir um
padrão irreal.
- Brené
Brown: síntese das ideias apresentadas em seu livro The Gifts of
Imperfection (2010).
- Carl
Rogers: reflexo de suas ideias sobre o conceito de aceitação
incondicional, que ele desenvolve em obras como On Becoming a Person
(1961).
- Viktor
Frankl: conceito presente em sua obra The Drama of the Gifted Child
(1979)
- Alice
Miller: ideia presente em sua obra The Drama of the Gifted Child
(1979)
- Albert
Ellis: reflexos do seu livro A Guide to Rational Living (1961).