11 de setembro de 2024

O Sofrimento Como Discípulos de Cristo

Introdução:

Se nos dispomos ou decidimos ser discípulos ou servos de Cristo, as provações, problemas ou dificuldades que enfrentamos podem não ser por nossa causa (culpa) ou para nosso crescimento (ensino, aprendizado). Podem ser por causa (culpa) do outro ou para a sua causa (ensino, crescimento do outro). No caso do sofrimento de Cristo, foi sempre pelo e para o outro. Como discípulos, somos tanto falhos aprendizes que precisam ser ajustados como instrumentos que são usados para fazer outros discípulos, às vezes sofrendo por causa dos outros e às vezes pelos outros.

Sofrer Como Discípulo de Cristo: Um Chamado ao Crescimento e ao Serviço

No caminho do discipulado, somos frequentemente confrontados com provações, desafios e sofrimentos. Às vezes, é fácil pensar que esses momentos são resultado de nossas falhas pessoais, mas a realidade é mais complexa e profundamente significativa. Como discípulos de Cristo, nossas dificuldades podem ter propósitos que transcendem nossas vidas individuais — podem ser tanto para o nosso crescimento pessoal quanto para o benefício dos outros. 

O Chamado ao Discipulado: Renúncia e Cruz

Jesus nos convida a segui-Lo com um chamado claro: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me" (Mateus 16:24). Este convite envolve uma renúncia de si mesmo e a disposição de carregar uma cruz — um símbolo de sofrimento, mas também de propósito e redenção. O teólogo Dietrich Bonhoeffer, em "O Custo do Discipulado", resume bem essa jornada ao afirmar que "quando Cristo chama um homem, Ele manda que venha e morra." Esta morte diária não é apenas física, mas uma morte para o ego, para as vaidades e para as prioridades que competem com o reino de Deus.

Sofrimento Como Ferramenta de Crescimento Pessoal

Nem todo sofrimento é resultado direto de nossas próprias falhas. Muitas vezes, ele é uma ferramenta que Deus usa para nos moldar, assim como o oleiro molda o barro. Em 2 Coríntios 1:4-6, o apóstolo Paulo nos lembra que somos consolados em nossas tribulações para que possamos consolar aqueles que enfrentam dificuldades semelhantes. Este ciclo de consolo e crescimento demonstra que nossas provações têm um propósito maior, que vai além de nós mesmos e se estende ao serviço aos outros.

C.S. Lewis, em seu livro "O Problema do Sofrimento", expressa essa ideia de maneira poderosa: "Deus sussurra em nossos prazeres, fala em nossa consciência, mas grita em nossas dores: é o seu megafone para despertar um mundo surdo." Nossas dores podem, portanto, ser vistas como oportunidades para ouvir a voz de Deus com mais clareza e para ajudar outros a ouvirem também.

Cristo Sofreu Pelo e Para o Outro

O sofrimento de Cristo é o exemplo supremo de sofrimento pelo e para o outro. Isaías 53:5 profetiza: "Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e esmagado por nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados." Jesus não sofreu por Sua própria culpa ou para Seu próprio crescimento, mas exclusivamente para a nossa redenção. Ele nos mostra que o verdadeiro discipulado envolve uma vida de sacrifício pelo bem dos outros.

Ellen G. White, em seu livro "Caminho a Cristo", nos relembra: "Aquele que mais perto se achega da cruz, é o que maior provação tem de suportar." Como discípulos de Cristo, estamos convidados a participar desse sofrimento redentor, não como uma punição, mas como uma honra e uma forma de viver o amor em sua forma mais pura.

Nosso Papel Como Discípulos: Aprendizes e Instrumentos

Como discípulos, somos tanto aprendizes que precisam ser ajustados quanto instrumentos nas mãos de Deus para impactar outras vidas. Nossas provações nos capacitam a servir melhor e a sermos testemunhas vivas do amor e da graça de Deus. Em vez de ver o sofrimento apenas como um fardo pessoal, podemos vê-lo como uma parte integral de nossa missão como discípulos.

A poesia a seguir resume essa jornada:

Se Meu Mestre Sofreu, Por que não eu?

Se decido ser discípulo, servo do Senhor,  
Caminho estreito, passos guiados pelo amor.  
Provações e lutas surgem, como ondas no mar,  
Mas nem sempre são por minha culpa a pesar. 
 
Há momentos que enfrentamos, fardos a carregar,  
Não por nossos erros, mas pra outros ensinar.  
Crescimento vem das dores, de ser ajustado,  
Como um barro nas mãos do oleiro, moldado.  
 
Cristo sofreu pelo outro, foi o sacrifício maior,  
Cada lágrima, cada espinho, cada dor.  
Eu, falho aprendiz, sigo o mesmo trilho,  
Sou moldado em paciência, coragem e brilho.  

Conclusão

Ser discípulo de Cristo é um chamado a abraçar tanto as alegrias quanto os sofrimentos, sabendo que tudo tem um propósito maior. As provações são oportunidades para crescer, servir e ser luz para outros. A pergunta no sofrimento deve nem sempre será "por que estou sofrendo?", nem ainda "para que estou sofrendo?", muitas vezes poderá ser "para quem estou sofrendo?".

Que possamos lembrar sempre que, como discípulos, estamos seguindo os passos de Cristo, não apenas em Sua glória, mas também em Seus sofrimentos — sofrendo por causa dos outros e, às vezes, pelos outros, com o propósito final de trazer esperança e vida onde há dor e escuridão e, acima de tudo salvação. 

Sejamos, portanto, discípulos fiéis, prontos para carregar nossa cruz e seguir Aquele que sofreu por nós. Que nossa vida, marcada por provações e vitórias, seja um testemunho constante do amor de Deus ao mundo. Amém.

2 comentários:

Helon Ferreira Tressmann disse...

Grande pastor João! Ótima reflexão…

Pr. João Batista disse...

Grande Helon. Realmente não é fácil aceitar. Ainda hoje, ao visitar uma mãe hospitalizada, quase morrendo por causa do câncer, a filha questionou o porquê do sofrimento tão grande de uma pessoa tão boa e cheia de sonhos ainda não realizados.