8 de junho de 2008

Voluntario ou escolhido?

Cristão indolente


 

Podemos mantê-lo no caminho?

Fidelidade. Você já pregou sobre isso; eu também. Entretanto, será que nossos sermões surtiram efeito? Numa recente conferência, vários pastores compartilharam a frustração diante da atitude de pouco caso que alguns crentes demonstram no serviço da igreja. Toda congregação pode vangloriar-se de possuir alguns voluntários alegres e confiáveis. Infelizmente, às vezes eles são exceção e não regra.

Os cristãos indiferentes são os que têm o hábito de chegar atrasados em todas as reuniões. Alguns realmente planejam chegar depois que a reunião já começou. Tenho certeza de que alguns ficam anos sem ouvir a oração de invocação no culto de adoração.

Depois, há os que nunca avisam quando estarão ausentes. Professores, diáconos e membros de comissões simplesmente não aparecem para cumprir as responsabilidades assumidas. Conseqüentemente, alguém tem de sair às pressas para encontrar um substituto de última hora.

Todos nós conhecemos aqueles irmãos que aceitam tarefas, mas não as cumprem. Jane promete dar carona para Sabrina; Eric verá se Fábio ainda precisa de aconselhamento; Douglas compromete-se a redigir uma carta importante; Carlos garante que estará presente na próxima reunião do conselho. Entretanto, nada acontece - nem nesta semana, nem nas cinco semanas seguintes.

Nossas congregações também estão cheias dos que justificam sua negligência com "desculpas esfarrapadas": "Recebemos visita", alguns dizem. "O tempo virou e ficou muito frio (ou choveu, ou ventou, dependendo da região)", outros dizem.

Tais atitudes não são toleradas no mundo secular. Muitos crentes que jamais chegaram atrasados no trabalho negligenciam suas responsabilidades no domingo (sábado) sem nenhum peso de consciência. Certamente no sábado não podem ser ameaçados com a demissão.

"Não esqueça que são voluntários", alguém me disse certa vez. "Você não pode demitir quem não recebe salário. Quando você só pode contar com voluntários, tem de se contentar com o que oferecerem."

Assim, continuamos convivendo com os atrasados, com os quebradores de promessas e com os procrastinadores. E nosso exército de voluntários segue claudicante. Muitos pastores podem compreender bem essa paródia do hino "Eia, soldados!".

Eia, lerdo exército,

sempre devagar,

arrastai, sem jamais

sair do lugar.

Num artigo publicado recentemente, James Fallows lamenta a deterioração do exército americano desde que o recrutamento deixou de ser obrigatório. Ele cita um ensaio publicado em 1980 por William Hauser, coronel reformado.

Hauser aponta para quatro elementos que sustentam a "disposição de lutar". Para aprender a submissão, o soldado deve repetir tarefas desagradáveis. Para conter o medo, deve conhecer seus companheiros e confiar neles. Isso o incentivará a lutar do lado deles, em vez de correr na direção oposta. Para despertar a lealdade, o exército exige que os homens durmam, trabalhem e se alimentem juntos. Finalmente adquirirão um senso de responsabilidade pelo bem-estar mútuo. No final, o exército tenta desenvolver um senso de orgulho, que fará o soldado lembrar-se de que outros dependem dele e valorizará sua contribuição para a segurança e o sucesso da unidade. Assim, ele luta esperando não voltar para casa dentro de um saco de plástico.

Cada uma dessas qualidades, porém, diminuiu depois da adoção do sistema de voluntariado. Agora o recrutamento baseia-se principalmente no interesse pessoal e não no serviço à nação. Por isso, os que se alistam têm um compromisso apenas parcial. Estão mais interessados nos benefícios da aposentadoria do que em realmente estar preparados para entrar em combate.

Já ouviu isso antes? Creio que chegou o momento de lutarmos contra a idéia de que a igreja é um exército de voluntários. Desde quando Deus dá opção de alistamento? Ele põe em debate as condições do nosso compromisso? Só se deve esperar fidelidade dos assalariados? Temos o direito de esperar menos no sábado do que esperaríamos na segunda-feira?

Um exército sob ordens

Vamos lembrar alguns fatos. Primeiro não escolhemos a Cristo; Ele nos escolheu. Jesus disse: "Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto..." (Jo 15.16). Como Comandante-em-Chefe, ele tem uma tarefa para cada um de nós. Como disse Peter Marshall: "Estamos selados sob ordens".

Nosso Comandante decide como e onde as batalhas devem ser travadas. Paulo aprendeu a submissão e a obediência tornando-se servo de Cristo. Não podemos desprezar o chamado divino sem nos tomar completos desertores.

Segundo, a fidelidade nas pequenas tarefas promove responsabilidade maior. "Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito" (Lc 16.10).

Como pastores, não chegamos atrasados ao culto matutino.

Afinal de contas, é um evento público. Entretanto, será que outras reuniões como aulas de estudo bíblico ou sessões de aconselhamento são menos importantes? Aos olhos dos homens, sim; aos olhos de Deus, não.

Quando se trata de exigir obediência dos filhos, os pais não se importam se o assunto em questão é importante ou irrelevante. O que conta é a atitude da criança para com a obediência. Nosso Pai celeste compartilha o mesmo sentimento. Quando somos infiéis em questões "mínimas", insultamos nosso Comandante. Ele não menospreza detalhes aparentemente insignificantes. Até um copo d'água, oferecido em nome de Jesus, receberá recompensa.

Terceiro, nossa motivação deve ser agradar a Deus, não aos homens. Paulo escreveu a Timóteo: "Nenhum soldado se deixa envolver pelos negócios da vida civil, já que deseja agradar aquele que o alistou" (2 Tm 2.4).

No exército de Napoleão, os homens suportavam dor física, doenças e até o sacrifício de um braço ou perna, por um simples gesto de aprovação do líder. Nada purificará mais nossos motivos do que a decisão de obedecer a Jesus, independentemente de sermos reconhecidos pelo mundo.

Jesus tinha a mesma motivação quando lavava os pés dos discípulos ou pregava a uma multidão. Ele disse: "Aquele que me enviou está comigo; ele não me deixou sozinho, pois sempre faço o que lhe agrada" (Jo 8.29). Ele não estava no jogo da vida para aparecer diante de seus contemporâneos. Não se considerava meramente um voluntário, mas sim um servo humilde, compelido a fazer a vontade do Pai.

Até os ímpios são fiéis quando bem pagos. Os cristãos, contudo, devem distinguir-se por sua atitude em relação a tarefas menores e sem recompensa. Devem ter a fé para crer que serão recompensados em outro mundo. Afinal, não é a nossa visão da eternidade que nos separa dos valores deste mundo temporal?

Como podemos, como Gideão, fazer distinção entre o trabalhador comprometido e o que só está aproveitando a "carona"? Gostaríamos de dar uma dispensa honrosa aos que se esquivam de responsabilidades. Entretanto, é melhor que cada pessoa reconheça suas deficiências e evite assumir compromissos que não esteja disposta a cumprir.

Comece estabelecendo padrões de desempenho para os que ocupam cargos na igreja - por escrito. Esses padrões podem incluir assiduidade, cumprimento de tarefas e um esboço geral do desempenho aceitável. Compartilhe esses padrões com o conselho e com os membros das várias comissões. Todos precisam saber que a liderança da igreja espera fidelidade. Todos também precisam saber que os líderes serão um exemplo de fidelidade para os outros.

Não tenha medo de perder alguns líderes. Se necessário, deixe alguns cargos vagos. Essa opção é melhor que preencher o cargo com outro indolente. Procure e espere um substituto qualificado e confiável. Ore. E ore novamente.

Pastores, precisamos mostrar fidelidade em nossas funções. Deus no final levantará um grupo de soldados dedicados, dispostos a suportar dificuldades pela causa de Cristo. O aumento do número de crentes submissos, qualificados e profundamente comprometidos deve começar conosco.

Um exército de voluntários jamais obterá nada. Somente o que se alista atendendo a uma convocação superior terá a determinação necessária para realizar a tarefa.

Fonte: LUTZER, ERWIN W.,
De Pastor para Pastor: Resposta Concretas para os Problemas e Desafios, pp. 49-53